PATRIMÓNIO
Considerações paisagistas em Oia
(37ª parte)
ENCONTROS POLIORCÉTICOS / Oia
Pierre Donadieu conclui assim: "Para que um bem-comum paisagístico material se torne num património público e seja, portanto, transmitido às gerações futuras, parece indispensável conhecer, à partida, menos aquilo que é para transmitir do que a comunidade ou o grupo que o deseja transmitir". Todavia refere: "(...) Mais é mais delicado para aqueles que querem preservar a biodiversidade ou a identidade das suas paisagens quotidianas fazerem-se entender do que para aqueles que fazem valer a preservação de empregos ou a segurança coletiva; isto depende sobretudo da relação de forças políticas ao nível de cada coletivo territorial". Sendo assim, quem disfarça e dissimula a natureza política do problema do Mosteiro de Oia? Para quê oferecer supostos assépticos se estes poderão constituir pura encenação paralela à realidade? Cómo não admitir e reconhecer, de vez, que contencioso de Oia faz parte de um problema urbanistico e paisagista em simultâneo? E cómo não fazer visível esse "trompe l,oeil" baseado na consumação de factos, nas visitas guiadas ou na estigmatização da opinião pessoal ou pública? Por acaso resolveram os intervinientes das "Conversas no Mosteiro" aquela dualidade sanguinolenta URBANIZAÇÃO/MOSTEIRO?
Pierre Donadieu, ciente desta realidade complexa, acrescenta no entanto o seguinte: "Valores estéticos e éticos, beleza dos lugares, memória, biodiversidade, alimentação de proximidade, livre acesso ao espaço público, emprego, lugares de lazer, espiritualidade ou solidariedade entre habitantes variam em função das políticas públicas locais quanto a esses valores, da governância destas políticas e das culturas locais-globais inscritas na história das paisagens dos territórios". Isto poderia ser apresentado como vantagem à partida ou como entrave, conforme queiram os líderes locais. Ninguém será alheio às previsíveis "radicalizações" (na cabeça de alguns) se se tornarem visíveis as frequentes MEIAS VERDADES empregues pelos empreendedores e famintos de obra. Por exemplo, não é correto chamar, qualificar prédios de "vilas turísticas", adoçando a verdadeira natureza monstrosa dos vinte blocos ao norte do cenóbio (para além do desnecessário adensamento populacional, para além do divórcio espacial com Oia-Arrabalde e a envolvente monacal). Ação gentrificadora facilitará as coisas ? Não.
A importância da informação básica entre as populações servirá não tanto para saber, estar a par e passo, como prevenir face ao futuro. Donadieu lança um aviso: "Tanto como o bem-estar melhorado relativo das populações, o que está em jogo nesta transmissão é a identidade evolutiva dos grupos sociais num quadro de vida que traduz as suas aspirações a viver bem no lugar onde habitam. É também a capacidade dos futuros habitantes dos territórios para se adaptarem a ambientes de vida (ou de sobrevivência) que podemos, em parte, prever".
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