6 de abr. de 2018

CAMINHA

CINEMA

Boletim da Sessão nº 340

"Toni", de Jean Renoir (1935

Sexta-feira, 06 de Abril às 21:45 no Auditório do Museu Municipal de Caminha


Locus Cinemae / Caminha

 “Lembro-me que a primeira vez que vi Toni (1935) de Jean Renoir, li uma frase muito bonita que me inquietava. Era qualquer coisa como: “uma tragédia onde o sol toma o lugar da fatalidade” e foi João Bénard da Costa que, na folha de sala, citava Truffaut numa crítica ao filme que escrevera para os Cahiers.  

 Sabe-se que se há elemento no cinema de Renoir ele é a água, de onde surge (e para onde vai) o vagabundo Boudu, ou a metáfora da circulação da vida em The River (O Rio Sagrado, 1951) só para ficar nos mais óbvios. Toni, espécie de neorrealismo italiano avant la lettre(sendo que aqui os únicos italianos são o assistente de realização, o jovem Luchino Visconti e os emigrantes que vêm trabalhar para a vilazinha do sul da França Les Martigues) até tem a dita água, o lago onde Marie se vai tentar afogar e até segue, como nos seus filmes de água, uma ideia de circulação. O filme volta aos carris do comboio, que trazem mais emigrantes, como no início, cheios de canções e certezas de felicidade. Uns chegam outros vão, morrem. Mas se há aqui essa circulação que luta contra uma ideia de romantismo, nesta história de “ménage à quatre” (outra vez Truffaut) é sob a imobilidade do sol – forte, natural, impassível face aos grandes amores e às mortes trágicas – que se podem ver a textura da pele dos camponeses e dos operários, Toni a chupar o veneno de abelha das costas de Josefa (na mais erótica e celebrada cena do filme) ou ela e Albert (o molenga gorducho que viria a ser seu marido) a tentar dobrar, em flirt desajeitado, um lençol. É esse sol que vai decaindo à medida que se sucedem as cenas de noite (em que Toni sai de casa e vai dormir para o monte) e que volta no dia seguinte, no último da vida de Toni. É um sol que a tudo e todos ilumina, os que vivem e os que morrem, que nasce contra a ideia de holofote, que é como quem diz, que encontra a poesia no fim do simbolismo trágico.”  


FICHA TÉCNICA:
Título original: “Toni”, França, 1935
Realização: Jean Renoir
Assistente de realização: Luchino Visconti
Produção: Pierre Gaut
Argumento: Jean Renoir e Carl Einstein, a partir de uma história de Andre Levert
Música: Paul Bozzi
Fotografia: Claude Renoir
Montagem: Marguerite Renoir e Suzanne de Troeye
Produtora: Films Marcel Pagnol
Distribuidora: Films Marcel Pagnol
Duração: 90 minutos
FICHA ARTÍSTICA:
Charles Blavette – Antonio ‘Toni’ Canova
Celia Montalván – Josefa
Édouard Delmont – Fernand
Max Dalban – Albert
Jenny Hélia – Marie
Michel Kovachevitch – Sebastian
Andrex – Gabi
Paul Bozzi – tocador de viola

Trailer de "Toni", de Jean Renoir

Programação:   
Abril 2018 
Ciclo Cinema Francês     

13 de abril, “O Vagabundo de Montparnasse”, Jacques Becker, França / Itália, 1958, Sessão 341 (s/ classificação) 20 de abril, “Hiroshima Meu Amor”, Alain Resnais, França / Japão, 1959, Sessão 342 (s/ classificação) 
27 de abril, “O Último Metro”, François Truffaut, França, 1980, Sessão 343 (M/12)

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